Não é difícil reconhecer a sigla HPV. Tão comentado num passado próximo, o vírus (o nome completo é Papilomavírus Humano) traz a lembraça imediata do câncer de colo de útero (ou câncer cervical), da vacina que recentemente chegou à rede pública de saúde brasileira e da importância de prevenção contra as famigeradas DSTs.
A fama do pequenino
de mais ou menos 50 nm de tamanho se deve ao seu potencial carcinogênico (de
causar câncer), especialmente o câncer de colo de útero - o segundo câncer mais
frequente entre as mulheres, só perdendo para o câncer de mama. O que pouca
gente sabe é que existem por volta de 100 tipos do vírus, e aproximadamente 15
deles tem potencial para originar um tumor, sendo que destes os mais perigosos
são os tipo 6, 11, 16 e18 (relacionados a 90% dos casos de câncer cervical).
Mas a que se deve esse poder maligno do temido HPV?
Isso tem a ver com a genética do virus.
Como a maioria dos
vírus, o HPV é constituído de uma cápsula feita de proteínas (o capsídeo) que
protege uma fita de DNA em formato circular, que contém as informações
necessárias para produzir novos virus e alterar a célula infectada para que se
submeta à vontade do invasor. Quando infecta uma célula, o virus expressa
alguns genes específicos para alterar o metabolismo dela em seu favor, ou seja,
utiliza parte das informações contidas em seu DNA - os genes chamados de Early
(precoce, do inglês), ou simplesmente E - para fazer cópias desse mesmo DNA e
obrigar a célula a se multiplicar com uma frequência muito maior, aumentando
assim a taxa de multiplicação do próprio virus. Dois genes em especial, o E6 e
E7, são os responsáveis por desregular a divisão celular, levando a uma proliferação exagerada das células e
orginando uma neoplasia (um tumor por definição - uma massa de tecido
"defeituoso" e de crescimento anormal). Esse tecido afetado pode ou
não dar origem ao câncer.
Genoma de HPV 16. Genoma de DNA circular
de dupla-fita, mostrando a localização dos genes.
Adaptado de D'Abramo CM, Archambault J - Open Virol J (2011).
Adaptado de D'Abramo CM, Archambault J - Open Virol J (2011).
Segundo artigo de
2011 (Infecção pelo papilomavirus humano: etiopatogenia, biologia molecular
e manifestações clínicas), o vírus apresenta tropismo (uma certa
preferência) por células epiteliais, podendo infectar a pele, mucosas ou a
camada de tecido que reveste órgãos internos. "As verrugas são a
manifestação clínica mais comum e características da infecção por HPV" ainda
citando o artigo, e "transformações malignas (pré-cancer) se iniciam em
geral na quarta e quinta décadas de vida e predominam nas áreas fotoexpostas
(expostas à luz solar), sugerindo um papel importante da radiação
ultravioleta."
A transmissão se dá
essencialmente por contato sexual (no caso dos 4 tipos citados anteriormente) e
os homens desempenham muitas vezes o papel de transmissor do virus para as
mulheres. As vacinas apresentam uma taxa de proteção de quase 100%, prevenindo
contra os tipos de vírus 16 e 18, de alto risco, e os tipos 6 e 11, causadores
de verrugas genitais benignas. Seu objetivo é dar prevenção primária ao organismo , e não
substituir o exame preventivo (Papanicolau), que rastreia o câncer caso já esteja
em evolução. Vale sempre lembrar que "a detecção precoce de lesões
causadas por HPV premite a utilização de abordagens terapêuticas menos
invasivas", de acordo com o artigo O Papilomavirus Humano: um fatorrelacionado com a formação de neoplasias.
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