terça-feira, 27 de janeiro de 2015

GLIOMA: ESTÁ TUDO NA SUA CABEÇA


     Glioma é o tipo de tumor cerebral mais comum que pode afetar pessoas de todas as faixas etárias (apesar de existir um risco maior entre os 30 e 60 anos) e ocorre igualmente entre homens e mulheres. Como todo câncer, sua origem está na multiplicação desregulada das células que pode ocorrer devido a mutações em genes reguladores específicos que ganham ou perdem sua função (os proto-onocgenes e genes supressores de tumor, respectivamente). 
     No caso dos gliomas as células que originam o tumor são as céulas da glia [As células esquecidas do cérebro], que atuam na sustentação e na nutrição dos neurônios e que estão concentradas na substância branca do encéfalo (centro do sistema nervoso).  Existem quatro células específicas formadoras da glia: os Astrócitos, Oligodendrócitos, Microglia e Ependima. Os tumores são classificados de acordo com o nome da célula de origem como Astrocitoma, por exemplo (originado de um astrócito), o tipo mais comum, correspondendo a até 70% do total de casos. Existem também os astrocitomas anaplásicos (anaplasia = "tipo de transformação neoplásica que confere ao tumor um potencial de maior agressividade") e Glioblastomas, ambos com origem nos astrócitos. Os tumores são classificados de baixo grau quando seu crescimento é lento e se comportam de maneira menos agressiva e de alto grau quando ocorre o contrário. A partir dessa classificação também há a divisão em 4 graus de gravidade, que leva em conta as mesmas características (segundo revisão da OMS). Quanto menor o grau, maior a taxa de sobrevida do paciente. 




Esquema representando neurônios e células da glia

      A principal dificuldade em se tratar um glioma é a sua localização dentro do crânio ou da coluna cervical - já que o tumor pode também se originar na medula espinal. Apesar disso, os tratamentos mais comuns são a cirurgia e a radioterapia, isoladas ou em conjunto. Os tipo de cirurgia mais comum são a craniotomia (parte dos ossos do crânio é removida é recolocada após a cirurgia) e a craniectomia (parte do crânio também é removida mas não é recolocada imediatamente, permitindo que o cérebro inche e alivie a pressão intracraniana). Os procedimentos cirúrgicos visam remover o máximo possível do tumor, sempre evitando prejudicar o cérebro e  diminuindo a pressão intracraniana e o edema cerebral (inchaço). A quimioterapia não é o principal método utilizado pois a maioria dos medicamentos não é capaz de ultrapassar a barreira hematoencefálica - uma estrutura permeável muito seletiva que serve para proteger o sistema nervoso central de substâncias potencialmente tóxicas presentes no sangue.  Ainda assim, quimioterápicos são muitas vezes empregados em ciclos alternados de tratamento, sendo os principais a Cisplatina, Carboplatina, Vincristina, Ciclofosfamida e a Temozolomida
  Alguns fatores levados em conta para decidir a melhor abordagem clínica são o tomanho do tumor, sua localização, doenças associadas e sintomas decorrentes da doença. Os sintomas mais comuns são dores de cabeça, convulsões e perdas de movimentos, sensações ou funções de determinada parte do corpo, e estão asociados ao aumento da pressão dentro do crânio (pressão intracraniana) que ocorre quando o tumor toma muito espaço e aperta partes do cérebro bloqueando o fluxo sanguíneo e causando edemas (inchaço). Entre os principais métodos diagnósticos estão a Tomografia Computadorizada (TC), a Ressonância Magnética (RNM), Tomografia por emissão de pósitrons (PET) e Biópsia.
  Inúmeros avanços têm sido feitos nos campos da pesquisa básica e clínica a respeito de diferentes tipos de tumor. Áreas como a imunologia, química, bioquímica e física propõem novos modelos de tratamento e abordagens terapêuticas.  Por enquanto, porém, o glioma em todas as suas variações continuará sendo o pesadelo daqueles a quem atormenta, relembrando-os constantemente de uma assombrosa verdade: o inimigo está dentro da sua cabeça.

Imagem por Ressonância Magnética de glioma de baixo grau e glioblastoma.


Para mais informações  clique aqui.





quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

HPV: O INIMIGO INVISÍVEL

                 


            Não é difícil reconhecer a sigla HPV. Tão comentado num passado próximo, o vírus (o nome completo é Papilomavírus Humano) traz a lembraça imediata do câncer de colo de útero (ou câncer cervical), da vacina que recentemente chegou à rede pública de saúde brasileira e da importância de prevenção contra as famigeradas DSTs.
                A fama do pequenino de mais ou menos 50 nm de tamanho se deve ao seu potencial carcinogênico (de causar câncer), especialmente o câncer de colo de útero - o segundo câncer mais frequente entre as mulheres, só perdendo para o câncer de mama. O que pouca gente sabe é que existem por volta de 100 tipos do vírus, e aproximadamente 15 deles tem potencial para originar um tumor, sendo que destes os mais perigosos são os tipo 6, 11, 16 e18 (relacionados a 90% dos casos de câncer cervical).

Mas a que se deve esse poder maligno do temido HPV? 


Isso tem a ver com a genética do virus.
                Como a maioria dos vírus, o HPV é constituído de uma cápsula feita de proteínas (o capsídeo) que protege uma fita de DNA em formato circular, que contém as informações necessárias para produzir novos virus e alterar a célula infectada para que se submeta à vontade do invasor. Quando infecta uma célula, o virus expressa alguns genes específicos para alterar o metabolismo dela em seu favor, ou seja, utiliza parte das informações contidas em seu DNA - os genes chamados de Early (precoce, do inglês), ou simplesmente E - para fazer cópias desse mesmo DNA e obrigar a célula a se multiplicar com uma frequência muito maior, aumentando assim a taxa de multiplicação do próprio virus. Dois genes em especial, o E6 e E7, são os responsáveis por desregular a divisão celular, levando a  uma proliferação exagerada das células e orginando uma neoplasia (um tumor por definição - uma massa de tecido "defeituoso" e de crescimento anormal). Esse tecido afetado pode ou não dar origem ao câncer.

Genoma de HPV 16. Genoma de DNA circular de dupla-fita, mostrando a localização dos genes.
Adaptado de D'Abramo CM, Archambault J - Open Virol J (2011).

                Segundo artigo de 2011 (Infecção pelo papilomavirus humano: etiopatogenia, biologia molecular e manifestações clínicas), o vírus apresenta tropismo (uma certa preferência) por células epiteliais, podendo infectar a pele, mucosas ou a camada de tecido que reveste órgãos internos. "As verrugas são a manifestação clínica mais comum e características da infecção por HPV" ainda citando o artigo, e "transformações malignas (pré-cancer) se iniciam em geral na quarta e quinta décadas de vida e predominam nas áreas fotoexpostas (expostas à luz solar), sugerindo um papel importante da radiação ultravioleta."
                A transmissão se dá essencialmente por contato sexual (no caso dos 4 tipos citados anteriormente) e os homens desempenham muitas vezes o papel de transmissor do virus para as mulheres. As vacinas apresentam uma taxa de proteção de quase 100%, prevenindo contra os tipos de vírus 16 e 18, de alto risco, e os tipos 6 e 11, causadores de verrugas genitais benignas. Seu objetivo é dar  prevenção primária ao organismo , e não substituir o exame preventivo (Papanicolau), que rastreia o câncer caso já esteja em evolução. Vale sempre lembrar que "a detecção precoce de lesões causadas por HPV premite a utilização de abordagens terapêuticas menos invasivas", de acordo com o artigo O Papilomavirus Humano: um fatorrelacionado com a formação de neoplasias.


Microscopia eletrônica do vírus HPV.
(http://pt.wikipedia.org/wiki/V%C3%ADrus_do_papiloma_humano)

FONTES:

http://www.inca.gov.br/rbc/n_51/v02/pdf/revisao2.pdf

http://www.incthpv.org.br/default.aspx

http://www.scielo.br/pdf/abd/v86n2/v86n2a14.pdf

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Uma nova ciência

A ciência enquanto atividade humana que visa organizar e produzir conhecimento tem um potencial gigantesco no que diz respeito à modificação da realidade, quer econômica, social ou tecnológica. Dessa forma, o distanciamento das atividades científicas de setores diversos da sociedade é um mal que deve ser combatido evitando-se, por conseguinte, a elitização da ciência e seu isolamento na Academia e fazendo dela uma ferramenta de uso comum na construção de um país desenvolvido em todos os aspectos.
É errôneo pensar que ser cientista depende de um grau elevado de instrução ou de um laboratório de ponta que conte com auxílio das principais agência de fomento do país. Essa significação criada em torno da ciência e da figura do cientista (um ser humano de jaleco branco, superior, inteligente e que por vezes parece viver uma realidade diferente) tem relação com o distanciamento que existe entre a ciência ensinada na escola, a ciência da Academia e o fazer científico propriamente dito. Deve-se ter em mente, contudo, que a atitude científica é fruto da razão humana e, portanto, bem pertencente a todo e qualquer que se sinta interessado por ela.
Nesse sentido, faz-se necessária uma reaproximação entre a população e a ciência através de iniciativas que valorizem o ensino das ciências desde a educação básica, a partir do desenvolvimento do espírito investigativo e da consciência de si enquanto ser humano dotado de curiosidade e razão, um cientista por natureza. A academia deve se mostrar aberta a receber e acolher jovens pesquisadores que desejem fazer parte desse universo, se unindo a instituições de ensino em diversos níveis. Além disso, é fundamental a realização de atividades voltadas para a comunidade em geral e a facilitação do acesso à informação científica no intuito de familiarizar a população com os produtos e métodos dessa realidade. Só assim será garantido o futuro do Brasil já que o conhecimento é o ponto de partida para qualquer mudança que se intente fazer.