Nome: Luiz Fernando da Silva Borges Idade:
16 anos
Cidade: Aquidauana Estado: Mato
Grosso do Sul
Instituição: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul – Campus Aquidauana
1. Como surgiu seu
interesse por pesquisa científica?
Por volta dos sete anos de
idade, quando fui passar o final de semana na casa de meu primo, a mãe dele
havia lhe dado o antigo kit de química: “Meu primeiro laboratório”. Este kit
consistia em um conjunto de bisnagas com reagentes químicos, tubos de ensaio em
uma estante de EVA, um conta-gotas e um manual que continha o “roteiro” de cada
experimento. Quando ele abriu a caixa do kit e eu me deparei com todos aqueles
materiais, foi incrível: Era a materialização dos instrumentos que os
cientistas malucos, dos desenhos que eu assistia, usavam. Ele fez vários experimentos
que faziam os líquidos borbulharem (desprendimento de CO2), mudarem de cor
(indicador ácido-base), soltarem fumaça (reação exotérmica) e simplesmente
desaparecer uma enorme mancha vermelha que tínhamos feito no sofá branco da mãe
dele (“sangue do diabo”).
Kit de química: “Meu primeiro laboratório” Disponível em: http://www.gvbrinquedos.com.br/ecommerce_site/produto_17128_11503_Meu-Primeiro-Laboratorio- |
Quando os reagentes já haviam acabado, ele me deixou ficar com o manual,
que continha alguns experimentos que podiam ser feitos com materiais
domésticos. Depois descobri vários programas na TV Cultura, como: “O Mundo de
Beakman” e “X-Tudo Experiências”, que mostravam os mesmos experimentos que
podiam ser feitos em casa. O que mais me fascinava era o propósito das
demonstrações, os experimentos explicavam fenômenos da natureza que, na maioria
das vezes, poderiam ser erroneamente respondidos com sonoros: “Porque sim.” ou
“Porque Deus quis.”. Depois de aprender vários experimentos, gostava muito de
demonstrá-los em qualquer ocasião, como se fossem truques de mágica. Minha
jornada sempre foi guiada pela curiosidade e pelo espírito “hands on”.
2. Como foi a decisão de
fazer pesquisa científica?
Depois de me apaixonar
cada vez mais por ciências, por meio dos experimentos demonstrativos, minha
descoberta da pesquisa científica está relacionada com a divulgação da FEBRACE
(Feira Brasileira de Ciências e Engenharia), que era feita em pleno horário
nobre na Rede Globo de Televisão! A chamada, narrada por Marcelo Tas (sim, um
dos apresentadores do programa CQC), dizia:
“Alô, alô meninas e
meninos criativos de todo o Brasil, já estão abertas as inscrições para a
FEBRACE (Feira Brasileira de Ciências e Engenharia) na USP. Para participar,
basta criar um projeto do BALACOBACO com fundamento científico. Milhares de
estudantes já mostraram: ‘A criatividade, traz a inovação.’ EUREKA! E você
ainda tem chance de participar da Feira Internacional de Ciências, nos Estados
Unidos. Acesse: www.lsi.usp.br/febrace, NÃO PERCA TEMPO!”.
Obedecendo o aviso da
chamada que passava, em média, duas vezes a cada intervalo de novela e jornal,
acessei o site e assisti todos os vídeos de edições passadas da feira.
Infelizmente, devido à pouca idade que tinha (nove ou dez anos...), eu imaginei
que a Febrace era uma feira de ciências como as que presenciava nas escolas de
minha cidade, onde você pesquisa um experimento na internet e apresenta. Ao
conversar com meus professores do ensino fundamental, nenhum sabia do que a
feira nacional se tratava, ou mesmo conheciam os caminhos para a “pesquisa
científica”, foi quando meu sonho de participar daquele evento adormeceu
durante o ensino fundamental inteiro. Neste período então, me transformei em um
ávido espectador das edições da Febrace desde 2008. Ficava cada vez mais
impressionado com a possibilidade de participar da tal: “feira internacional”
e, aos poucos, criei uma imagem do que era a pesquisa científica.
Percebi que não bastava apresentar
experimentos, mas que você tinha que ser o PROTAGONISTA de um! Foi quando meu
amor platônico por ciências saiu do mundo das ideias e se tornou concreto.
Seguindo um “método” especial, eu poderia controlar alguns fenômenos da
natureza e até mesmo manipulá-los! Sem me dar conta, incorporei a visão do mito
do titã Prometeu ao fato de ter poder sobre a natureza. Pra quem não conhece
este mito, Prometeu era um titã que adorava enganar os deuses do Olimpo. Um
dia, ele roubou o fogo sagrado do Olimpo e o entregou aos mortais. Ele nos
entregou um poder que antes só era conferido aos deuses! Por causa disso, Zeus
o acorrentou no alto do monte Cáucaso e por trinta mil anos, ele teria seu
fígado devorado por uma águia. Como Prometeu era imortal, seu fígado se
regenerava durante a noite e no dia seguinte, a águia o devoraria novamente,
dia após dia, ad infinitum! Acredito
que quando fazemos pesquisa, estamos honrando o sacrifício de Prometeu,
exercendo um papel sobre o mundo antes apenas concedido a entidades espirituais
fantasiadas.
Mito do Titã Prometeu: O crime o castigo.
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Prometeu
Quando eu estava terminando o ensino fundamental, soube da instalação de um Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia em minha cidade. Institutos Federais oferecem a grade curricular comum do ensino médio e o ensino técnico profissionalizante integrado. Foi uma das melhores notícias que já recebi, pois já havia notado que boa parcela dos participantes da Febrace era de Institutos Federais de Educação. Passei no exame de seleção para o curso Técnico Integrado em Informática em primeiro lugar e descobri que a pesquisa científica era cultura dentro da instituição! Foi quando, mesmo no primeiro ano, encontrei professores que estavam dispostos a serem os mentores de minha vida acadêmica. Aprendi que o tal “método especial”, para o controle e exploração dos fenômenos naturais, chamava-se: “método científico” e que as feiras de ciência eram uma forma de “mídia especializada” de divulgação de pesquisas de nível médio. Aprendi que tudo tinha que ser documentado, provado, etc. Lembro agora de uma frase do Adam Savage, um dos apresentadores do programa “Mythbusters”:
Aprendi tudo o que pude sobre o método científico e o método de
engenharia (ou tecnológico) na internet e comecei uma das etapas mais difíceis
em ambas as pesquisas: a escolha do tema.
3. Qual o tema da sua pesquisa? Onde foi desenvolvida?
Ainda regido por uma mentalidade de “ciência caseira”, conheci a cultura DIY Bio (Do It Yourself Biology), que consiste no incentivo a fabricação de equipamentos de laboratório de biotecnologia em sua própria garagem, com materiais relativamente fáceis de serem encontrados em hardware stores. Este movimento surgiu nos EUA como um hobbye que reunia entusiastas no fim de semana em fundos de quintal para trabalharem em projetos de biotecnologia. Fiquei impressionado com o quanto poderia ser feito com muito pouco, desde bactérias que brilham no escuro até biocombustível. Foi quando percebi que o “fazer muito com pouco” era uma característica inerente da ciência brasileira. Na maioria das vezes, com poucos recursos, os cientistas brasileiros têm que improvisar e adaptar todo dia se quiserem produzir.
Desde registrar e ouvir neurônios de baratas, bem como controlar o andar destas com um implante digno de cyborg e um app pra celulares até fazer iogurte que brilha no escuro, algumas realizações da “cultura DIY BIO”.
Disponível em: backyardbrains.com
Um grupo, em especial, me chamou muito atenção, tratava-se de uma
iniciativa para tornar mais barato um equipamento utilizado em laboratórios de biologia
molecular chamado: “termociclador”. Ele consiste, em uma linguagem leiga, de
uma máquina de xérox de DNA. Basicamente, você coloca o DNA que você quer
copiar (ou amplificar) em um tubinho junto com alguns reagentes que vão
delimitar o trecho (fragmento) que será copiado e outros que vão fazer a cópia
em si. Estes reagentes têm que atuar em uma ordem específica sobre a cadeia de
DNA para que a amplificação seja realizada e o “treinador” deste time de
reagentes que diz para cada um quando sair do banco de espera e entrar no campo
de DNA são picos de temperatura específicos.
Esta amplificação é chamada de PCR (Reação em Cadeia da Polimerase) tanto que o nome original deste equipamento é PCR Machine. A PCR possui como principais aplicações: as médicas (Detecção de doenças causadas por mutações genéticas, testes pré-natal, identificação da compatibilidade de órgãos para transplante, detecção de câncer, entre outras.); na identificação de patógenos, causadores de doenças, de difícil ou lento cultivo em laboratório (HIV, tuberculose, E. Coli, entre outras); as forenses (Identificação de resíduo biológico da cena de um crime com comparação ao de um suspeito, testes de paternidade, entre outras) e aplicações em pesquisa (Sequenciamento de DNA, classificação de organismos, isolamento seletivo de genes, entre outras.).
Esta amplificação é chamada de PCR (Reação em Cadeia da Polimerase) tanto que o nome original deste equipamento é PCR Machine. A PCR possui como principais aplicações: as médicas (Detecção de doenças causadas por mutações genéticas, testes pré-natal, identificação da compatibilidade de órgãos para transplante, detecção de câncer, entre outras.); na identificação de patógenos, causadores de doenças, de difícil ou lento cultivo em laboratório (HIV, tuberculose, E. Coli, entre outras); as forenses (Identificação de resíduo biológico da cena de um crime com comparação ao de um suspeito, testes de paternidade, entre outras) e aplicações em pesquisa (Sequenciamento de DNA, classificação de organismos, isolamento seletivo de genes, entre outras.).
O termociclador cumpre o papel do treinador, o usuário deste equipamento
programa os ciclos de temperatura e o equipamento os executará por meio do
aquecimento e resfriamento de um bloco metálico com perfurações, em que são
postos os tubinhos. Até aí nada demais, se não fosse o fato deste equipamento
com esta simples função custar, em média, R$25.000,00! Não é de se estranhar
quando o bloco metálico é constituído de prata banhada a ouro e o termociclador
ter uma CPU inteira em seu interior. Este grupo então, propôs a criação de um
termociclador de custo reduzido que chamaram de OpenPCR. Ele seria destinado
aos centros de DIY Bio e instituições de ensino. A falta de publicações
científicas sobre o Open PCR me limita a falar mais sobre ele, de modo que suas
configurações poderiam não atender às necessidades de um laboratório
profissional. Talvez porque o uso profissional nunca fora o objetivo de seus
criadores.
Como a área de biológicas sempre foi a que me atraiu mais, decidi que ia levar este hobby a sério e construir minha versão de um termociclador que atendesse às demandas nacionais por este tipo de tecnologia. Ele teria que ter o desempenho equiparado a seus pares comerciais e com um custo várias vezes menor. Eu já possuía alguns conhecimentos necessários para começar a elaboração de um, mas aprendi que toda pesquisa precisava de um orientador. No início de 2013, propus minha ideia de um termociclador de baixo custo para meu professor de algoritmos, Leandro de Jesus, que coordena um grupo de robótica e prototipagem no câmpus de minha instituição, ele aceitou e começamos o projeto. No decorrer da pesquisa, programei várias inovações nos algoritmos de controle de temperatura do aparelho e em sua constituição física que não são encontrados nem na maioria dos aparelhos comerciais.
Agora, em fevereiro de 2015, preparando-me para mais uma edição da Febrace e finalização do projeto, a fase dos testes com amplificações de DNA comparativas (em aparelhos comerciais e no meu) já começou. Até o meio do ano todos os resultados estarão compilados em um artigo que será publicado em um periódico da área de engenharia biomédica, que comprovará a funcionalidade de meu equipamento. Porém, posso adiantar agora que o desempenho deste foi muito maior que o de seu primo americano e seu custo ainda menor!
Desta forma, Iniciei no fim de 2014 uma pesquisa que objetiva a criação de um gadget para smartphones que é capaz de detectar bactérias causadoras de infecções transmitidas por alimentos, e no começo deste ano iniciei duas novas pesquisas nas áreas de próteses neurais com biofeedback e interface cérebro computador.
Agora, em fevereiro de 2015, preparando-me para mais uma edição da Febrace e finalização do projeto, a fase dos testes com amplificações de DNA comparativas (em aparelhos comerciais e no meu) já começou. Até o meio do ano todos os resultados estarão compilados em um artigo que será publicado em um periódico da área de engenharia biomédica, que comprovará a funcionalidade de meu equipamento. Porém, posso adiantar agora que o desempenho deste foi muito maior que o de seu primo americano e seu custo ainda menor!
Desta forma, Iniciei no fim de 2014 uma pesquisa que objetiva a criação de um gadget para smartphones que é capaz de detectar bactérias causadoras de infecções transmitidas por alimentos, e no começo deste ano iniciei duas novas pesquisas nas áreas de próteses neurais com biofeedback e interface cérebro computador.
4. Houve alguma
dificuldade em encontrar apoio para a realização do seu projeto?
Em nome de apoio moral não,
acredito que a maioria dos professores gostam de ver retorno em seu trabalho e
trabalhar com estudantes interessados. Alguns professores são tão empolgados
que até “jogam” uma pesquisa nas mãos dos alunos e os fazem apresentar como se
fossem os protagonistas (algo que me incomoda muito em feiras “maiores”). Para
o investimento, contei com bastante “mãetrocínio” e “paitrocínio” nos anos em
que fui bolsista voluntário. Em 2014 ganhei uma bolsa de pesquisa de iniciação
científica júnior do CNPq por me destacar na Febrace deste mesmo ano. Apesar de
serem apenas R$100,00 mensais, o valor foi suficiente para manter a compra de
componentes básicos para o projeto. As estruturas do Campus Aquidauana são
suficientes para a construção do protótipo e estou contando com o Campus Campo
Grande da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul para os testes com a
amplificação de DNA comparativa.
5. Você já participou de feiras de ciências?
O
limite de uma constante é zero? Sim! Costumo fazer uma analogia com as feiras
de ciência para estudantes pré-universitários e o mundo acadêmico: “As feiras
de ciência são como as lanchas, ops...”. Melhor agora: “As feiras de ciência
são como os Scientific Journals e a avaliação é como a revisão por pares.”.
Penso até que a avaliação é ainda pior que a revisão por pares, pois é feita ao
vivo! Minha primeira participação em uma feira de ciências foi em 2013, com o
projeto do termociclador. Em 2011, descobri que havia uma feira de ciências e
engenharia em meu estado chamada FETEC MS, ela é coordenada por um professor
que já participou da coordenação da Febrace e foi o responsável pelas primeiras
participações da delegação brasileira na Intel International Science and
Engineering Fair, antes mesmo da existência da Febrace, o prof. Dr. Ivo Leite.
6. Como essa experiência influenciou sua visão pessoal da ciência?
7. Na sua opinião, quais os maiores obstáculos ao progresso da ciência no Brasil?
Em 2014, três trabalhos do Mato Grosso do Sul
integraram a delegação brasileira para a INTEL ISEF, dois deles do IFMS. Disponível em: https://www.flickr.com/photos/febrace/14037171019/ |
Mesmo sendo a minha primeira feira, a FETEC MS 2013 me rendeu vários
primeiros lugares e uma credencial para a Febrace 2014, onde fui classificado
no 4° lugar na área de engenharias e quando tive o prazer de ver dois projetos
de meu estado sendo selecionados para a Intel ISEF (Já disse que ela é maior
feira de ciências e engenharia para estudantes pré-universitários do mundo?).
Ano passado, meus resultados na FETEC MS 2014 não foram muito diferentes e
agora estou me preparando para a Febrace 2015!
6. Como essa experiência influenciou sua visão pessoal da ciência?
Foi a primeira vez que pude
estar em um ambiente repleto de jovens como eu, com os mesmos interesses.
Conversar sobre os desafios e as soluções que cada um enfrenta/desenvolve é uma
experiência engrandecedora e que nos prepara para futuros problemas. No caso de
feiras nacionais, estar imerso em um ambiente com culturas de todas as regiões
do Brasil é uma experiência que todo jovem cientista tem que ter, ao menos, uma
vez na vida. Aproveitar o tempo livre em feiras de ciência para criar uma
network é indispensável para qualquer jovem pesquisador. Hoje tenho amigos de
todo o Brasil e um bom punhado deles de outros países, pois podemos falar
idiomas diferentes, mas a ciência é nossa língua e a vontade de inovar e fazer
diferente é energia que nos move.
7. Na sua opinião, quais os maiores obstáculos ao progresso da ciência no Brasil?
O primeiro maior obstáculo que poderia ser resolvido
em curto prazo seria a profissionalização do cientista. Sim, a profissão de
“cientista” não é reconhecida, obrigando estes profissionais a lecionarem se
quiserem exercer suas pesquisas nas dependências de uma universidade. Salvo
algumas instituições particulares que os contratam como pesquisadores.
Acompanho há algum tempo a luta da profa. Dra. Suzana Herculano-Houzel sobre
este tema, e suas palestras sobre este assunto e suas possíveis soluções são
muito interessantes. O segundo maior obstáculo é a dificuldade que
pesquisadores brasileiros têm de conseguir auxílio financeiro para suas pesquisas,
sendo que este só privilegia o alto escalão do “sistema de castas” do CNPq. O
maior brasileiro de todos os tempos (racionalmente falando) foi Alberto Santos
Dumont, um homem que nunca teve um título acadêmico, falou que iria voar e o
fez! (Enquanto dava voltas na Torre Eiffel com seu balão, os irmãos Wright,
ditos “pais da aviação”, estavam empinando pipa na praia da Califórnia. Sim! O
inventor do voo controlado é brasileiro!).
Já vi um cientista dizer que
em certas regiões dos EUA você nem precisa ter formação acadêmica para
conseguir patrocínio do governo, basta saber escrever um plano de pesquisa.
Citarei como exemplo, o caso de um mecânico que inventou um dispositivo que
salvará milhares de bebês na hora do parto com complicações, depois que viu seu
amigo retirar uma rolha de dentro de uma garrafa de vinho com uma sacola
plástica. E o último problema é o obstáculo da falta de incentivo à ciência, no
Brasil. Fico maravilhado quando vejo que “Feiras de Ciência” é parte da CULTURA
norte americana. É muito difícil pensar em filmes ou seriados que retratam o
cotidiano de um estudante norte americano, que não tenha ao menos um episódio
que leva o título de: “Feira de Ciência” (Manual de sobrevivência escolar do
Ned, Drake e Josh, iCarly, Todo mundo odeia o Chris...). Desde as séries
iniciais, eles aprendem que um “science fair project” deve ser feito propondo e
testando hipóteses.
Temos até mesmo uma referência à “Intel ISEF” no filme: “October Sky”,
ou: “Céu de outubro”. É um filme baseado no livro de um cientista da NASA que
retrata sua história e a de seus amigos ao descobrirem uma paixão por foguetes
iniciada pelo lançamento do satélite Sputnik. Ao final do filme (spoileir
alert), eles conseguem uma credencial para a “Feira Nacional de Ciências dos
Estados Unidos”, que anos depois se tornou a Intel International Science and
Engineering Fair. As crianças e jovens brasileiros têm que olhar para nossos
cientistas da mesma maneira que olham para “celebridades”, jogadores de
futebol, etc. Temos que mostrar que a ciência é, talvez, o maior meio de
transformação social.
Parece que o brasileiro já
nasce com uma capacidade inata para resolver problemas, imagine se todo o
potencial criativo de nossos jovens e crianças fosse direcionado desde cedo
para áreas acadêmicas? Imagine se nossas crianças e jovens crescessem
assistindo: “Cosmos” e “O Mundo de Beakman” no horário nobre de grandes
emissoras de TV! Imagine se nosso sistema educacional não fosse baseado apenas
no ato de mensurar o quanto um aluno consegue vomitar de volta em uma prova,
daquilo que foi lhe posto garganta abaixo durante as aulas! Imagine se nossos
jovens não perdessem seu tempo estudando conteúdos que nunca irão utilizar em
suas vidas acadêmicas para poder ingressar em um curso superior, mas sim fossem
julgados por seus méritos e sua capacidade de fazer o novo! O diferente!
8. Um conselho a um
jovem, um cientista em potencial
Deixo aqui dois
conselhos de vó... Dona Maria Laporta, em minha opinião, vó do maior cientista
brasileiro vivo, Miguel Nicolelis: “Sonhar grande e sonhar pequeno leva o mesmo
tempo de sono.”. Você vai gastar o mesmo tempo dormindo, mas o resultado do
sonhar grande, do sonhar com impossível é muito maior que o sonhar com um sonho
medíocre. Na busca de um objetivo impossível, mesmo que você não chegue no
limite deste sonho, com certeza, em sua jornada em busca do impossível,
produzirá feitos nunca antes vistos.
O segundo conselho, o mais
forte deles se bem analisado, é: “O impossível é somente o possível que alguém
não pôs esforço suficiente para torná-lo realidade.” Não entendo o porquê de
algumas pessoas terem tanto medo do impossível quando estamos rodeados por ele
todos os dias. Como ainda podemos dizer que o céu é o limite quando temos
pegadas na Lua? A maioria das inovações tecnológicas bem consolidadas hoje, no
passado, já foram considerados impossíveis.
E por último, um conselho meu,
resultante dos dois primeiros: Quando nós, jovens cientistas, começamos a
perseguir o impossível, temos que lidar com a reação da mediocridade que reina
em nosso entorno... Pois você tem todo o direito de deixar de perseguir o seu
impossível, mas não tem o direito de atrapalhar alguém de fazê-lo. Nem precisa
ajudar, basta não atrapalhar, pois já propus várias ideias que foram
consideradas como absurdas e que, tempos depois, foram realizadas por outras
pessoas. Às vezes, vejo que alguns projetos de iniciação científica júnior, em
feiras, têm um nível imensamente superior a alguns trabalhos de conclusão de
cursos (TCC) de faculdades reconhecidas. Isso demonstra que muitos já deixaram
de perseguir; ou talvez nunca experimentaram; seu sonho impossível. Logo, nunca
ouça palavras de desincentivo infundadas, nem se partirem das mais conceituadas
castas acadêmicas, pois elas, talvez nunca serão eternizadas, por nunca terem a
audácia de produzir algo que as eternizará.
Todo jovem cientista deveria ouvir atentamente os concelhos de Miguel
Nicolelis, considerado um dos 20 maiores cientistas do mundo, responsável por
fazer um paraplégico ser o protagonista do chute inicial da Copa do Mundo de
2014.
Para
começar a conhecer melhor este “mundo”, sugiro a plataforma Aprendizagem
Interativa em Ciências e Engenharia – APICE, desenvolvida pela Febrace em
parceria com a Intel Education, que oferece cursos de capacitação para
professores e alunos interessados em aprender o método científico e método de
engenharia, bem como a organização de feiras de ciência (http://apice.febrace.org.br/)
Lembrem-se: “Aqueles que são
loucos o bastante para pensar que podem mudar o mundo... São aqueles que o
fazem!”. THINK DIFFERENT
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